terça-feira, 5 de abril de 2011

Crenças


  Porque continuo a acreditar nas pessoas? Pois não sei. Esforço-me para nunca o deixar de o fazer. Por vezes quase desisto. Isso acontece quando reparo em coisas que, realmente, parecem-me completamente descabidas. Tenho vontade de mudar de planeta quando me cruzo, como alguém disse, com pessoas «tão habituadas ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhes chega e o acessório tornou-se indispensável».
  Por vezes julgo que estou completamente desactualizada... ou será que, agora, os tempos são realmente outros e tudo se faz mais precocemente?
Todos os miúdos (pequenos) têm uma intensa vida social... não há uma abençoada semana em que os papás não tenham de andar de trás para a frente a levar e a trazer criancinhas a casa uns dos outros. E os adolescentes? Uma festa de aniversário de adolescente que se preza não se realiza em qualquer lado e é vedada a pais. Só aceitam tecnologia de última geração, só estudam em escolas privadas, só vestem roupa de marca e ler... só o menu do Macdonald's... pois... a maior parte são gordos, caminham para obesos de comando de consola na mão, sentados no sofá... horas a fio... dias a fio... que se transformam em anos. Comunicam por abreviaturas e vulgarizam palavrões. Vulgarizam também outras palavras, bonitas, roubando-lhes o significado por tantas vezes as repetirem... em vão.
  As pessoas decepcionam-me sobretudo pela sua superficialidade. Não sabem dizer «não» aos seres que devem (porque escolheram conscientemente essa opção) formar para o Mundo.
  Estes crescem como seres consumistas, egoístas e iletrados. São sobretudo descartáveis: usam coisas e pessoas quando lhes são proveitosas, novas, úteis; depois deitam-nas fora. Este mal não é só das novas gerações... infelizmente! Os que assim não são, raras excepções, são apelidados de «betinhos» ou, como se dizia antigamente meninos-queques.
  Não me importo de o ser. Muito pelo contrário. Sou, certamente, pois continuo a reparar nos outros e a acreditar neles. Não deito comida fora. Continuo a gostar de abrir um livro e saborear cada página... o seu cheiro... o seu toque. Continuo a guardar uma caixa de madeira (um pequeno baú) com coisas que aparentemente parecem lixo: bilhetes de cinema, de avião, de espectáculos, de entradas em museus.... de eléctricos.... contas de determinados restaurantes, flores secas, pedras, conchas, postais, bilhetes manuscritos... cartões de flores... coisas que toda a gente deita fora... mas que eu guardo e cada uma delas simboliza um momento especial, marcante... coisas velhas, por vezes amarrotadas, simples pedaços de papel... que ninguém percebe o que significam... apenas eu. Desactualizada? «Quadradona»? Certamente! Mas não me importo. Recuso-me a acrescentar «bué» e «cota» ao meu vocabulário.     
  Quero continuar a acreditar nas pessoas e que existem excepções. Acredito que nem todos pertencem à geração descartável e que se diz «à rasca». Não uso e deito fora. Dou-me ao luxo de usar e abusar... saborear, aproveitar e dependendo daquilo que se esteja a falar, conservar... mais que não seja no tal baú de madeira... de recordações ou memórias... para muitos lixo, para mim ouro. Um dia alguém deitará o meu baú para o lixo... mas eu não deixarei de acreditar... seja aqui ou numa nuvem qualquer.



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