quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

«Resvés Campo de Ourique»

  Apetece-me utilizar esta expressão popular para definir o estado actual do País... este País que vai a eleições no próximo domingo, convém (re)lembrar... o mesmo Portugal que continua com «as medidas de austeridade» por causa de uma tal de crise(?) e, também, o mesmo que tem tido, até então, um economista como presidente. Economista esse que à semelhança de todos os economistas deve ter começado por estudar a «Bíblia» da Economia de Paul Samuelson (falecido em 2009)... contudo e diferentemente do «pai da economia moderna» (um dos poucos nomes que me conseguiu fazer olhar de diferente forma para esta ciência e, exactamente, por mostrar tão claramente como esta influencia e é influenciada por todas as outras) não teve a capacidade de aproximar esta ciência do grande público. Talvez o tenha «seguido», eu diria em demasia, no que diz respeito ao apoio da teoria do Estado intervencionista (utilização de medidas monetárias e fiscais, por parte dos Governos, para enfrentar recessões e depressões económicas), assim como seguiu Gordon Brown e Barack Obama (mas isso são outras histórias e outros contextos).
  Contudo, e tendo em conta a forma como estamos a ser «apertados», será que dá para ter em conta, ou para não esquecer, a necessidade da existência de uma visão um pouco mais ampla? Para mim a ciência (em oposição à religião e ou ao sistema de crenças) é única, uma só que se divide em vários ramos de uma mesma árvore, com um só tronco. Onde estão, agora, os troncos que dizem respeito às ciências sociais e humanas? Será que uma análise séria (e inteligente, no terreno) ao modo de vida, aos comportamentos, aos gastos, às manifestações culturais e às sociais, também, não seria relevante para medir as consequências das medidas optadas pelo Governo para fazer «face» à crise?
  Eu diria que, quantitativamente, essa análise revelaria que estamos a (sobre)viver «Resvés Campo de Ourique», e quando digo «estamos» refiro-me à «antiga» e quase extinta classe média... que praticamente de um dia para o outro vê a sua qualidade de vida ser reduzida para metade... sem exageros e tendo em conta que o ano apenas começou há 19 dias.
  O certo é que este povinho - disposto neste rectangulozito «plantado à beira-mar» - continua conformado e procura adaptar-se sem muito refilar... vivemos «résves».

P.S.: Para quem não sabe, muitos atribuem o termo «Resvés Campo de Ourique» ao acontecimento do dia 1 de Novembro (dia marcante por este e por outros motivos) de 1755 - Dia de Todos os Santos – quando um terramoto de elevada magnitude, seguido de um tsunami, atingiu a cidade de Lisboa, matando milhares de pessoas. A força do tsunami foi tal que as águas entraram por Lisboa e chegaram bem perto de Campo de Ourique. Foi «resvés».
  Contudo existe uma outra teoria: Marina Tavares Dias (em Lisboa Misteriosa) apresenta a versão segundo a qual a expressão se refere ao traçado urbano da Lisboa oitocentista; a circunvalação que traçava os limites da cidade passava dentro do bairro sendo que Campo de Ourique «à justa» fazia parte da capital.
Seja como for é à justa, ou resvés,  que estamos. Com pouco espaço para «manobras».

Sem comentários:

Enviar um comentário