sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

«Chatices» e politiquices

 Sabem o que realmente me «chateia»? Quase que criei defesas contra este Inverno horrendo e este frio que me congela as entranhas... quase que consigo ignorar as pessoas pequeninas que em vez de «julgarem» um crime macabro se limitam a  avaliar sentimentos entre pessoas do mesmo sexo.
  Com um certo esforço esqueço que a justiça do meu País continua a dar relevância a insignificâncias... e a soltar criminosos... e fechando os olhos até consigo não dar conta de ordenados milionários de alguns ignorantes e grotescos apresentadores de televisão e de uns quantos jogadores de futebol, cuja utilidade para a sociedade continuo sem perceber.
  Com algum sacríficio procuro seguir o conselho de um médico meu amigo: «Faz aquilo que tens de fazer, por necessidade, embora não gostes, o melhor que puderes, o mais rápido que conseguires, para que te sobre tempo para aquilo que gostas de fazer, embora isso possa não te dar lucros materiais».
  Mas querem realmente saber o que mais me «chateia»? As campanhas eleitorais.
  Estou tremendamente entediada de ouvir os podres dos candidatos serem dissecados até à última molécula. Irrita-me solenemente os beijinhos que estes dão a senhoras com bigode nos mercados e a criancinhas de ranho no nariz. Enerva-me os disparates e sobretudo todas aquelas promessas que fazem.
  E sabem porquê? Porque conheci de perto (familiarmente perto) a história de alguém que lutou e que morreu pela democracia e sem precisar de um fato Armani (passo a publicidade). Alguém que sacrificou a sua vida e o conforto da sua família por um ideal, por uma causa, por um partido... sobretudo pelo fim de um regime que não lhe concedia liberdade para fazer coisas muito simples das quais muito gostava: teatro, escrita e tertúlias com os amigos.
  O António Maria viu os seus livros serem confiscados. Foi preso político durante muito tempo... soube que os seus filhos passaram necessidades por terem ficado sem a sua fonte de sustento. Soube que a sua mulher teve de trabalhar até as suas mãos sangrarem para pôr comida na mesa todos os dias.
  Foi sujeito a todas as torturas imaginadas... desde a tortura do sono, estar dias com água pela cintura... foi espancado e até rasgou a própria camisola (a única que então tinha) para fazer ligaduras para as costelas que lhe partiram.
O que me «chateia» é que quando o soltaram, para morrer poucos dias depois, ele já não conseguiu ver a queda do regime que vigorava, a chegada da democracia.
  Por estas e por tantas outras razões, pelo António Maria, de quem dizem, herdei alguns gostos, não consigo compreender como podem as pessoas não exercerem o seu direito de voto.
 Desde que me lembro de «ser gente» que desejava ter 18 anos para simplesmente poder votar e desde então faço-o... e faço-o por mim, pelos Antónios Marias, pelo partido. Faço-o, não por tradição, mas por ser um direito. Não por um rosto mas por uma convicção.
E, realmente «chateia-me», e muito, quem não vota.

1 comentário:

  1. 100% de acordo...

    Só falhei as eleições em 1999 e foi porque, com a minha mãe internada no IPO, tudo o resto me passou ao lado.

    É um direito e um dever que devemos cumprir, sempre!

    Beijinhos***

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