terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O velho e o cão

  Se as ciências que se dizem concretas se debruçassem realmente sobre a materialidade, aquela física que cabe no espaço das ruas, então... de científico nada teriam. Não é que eu não acredite na ciência, muito pelo contrário, até creio que ela explica praticamente tudo. O que sobra para além dela pode igualmente explicá-la assim como às suas complexas teorias. Simplificando eu diria que tudo é uma questão de nomes que se dão às coisas e aos seres que atribuem “vida“ a essas coisas.
 Estes últimos (os seres) passam a vida a complicar a querer atribuir classificações ao que não é sequer qualificável quanto mais quantificável. Ao que não é visível chamam mágico, irreal, emocional e até sobrenatural... ao restante... chamam Mundo.
Eu simplesmente não chamo. Limito-me a sentir. Hoje, por exemplo limitei-me a sentir quando vi o cãozinho aninhado sobre si mesmo protegendo-se da chuva na estação dos comboios. Limitei-me a sentir quando vi o velhinho sentado na paragem de autocarro... costumo vê-lo todos os dias... independentemente da hora que passe naquele local... ele lá está, sentado, vendo o Mundo passar por ele... hoje sentia também a chuva, o vento e o frio.
Hoje não precisei de chamar vadio ao cão nem solitário ao velhinho. E eles querem lá saber da ciência ou da religião, da metafísica ou da poesia. Muito menos de política. Senti como quem sente por estar vivo... senti o temporal teatralizar o cenário de betão construído. Cheguei a casa, quente, e sentei-me a jantar. Pensei no homem e no cão. Imaginei que podiam ser amigos e aquecerem-se nas noites de Inverno.
De que servem rótulos, nomes ou frases para tentar expressar o que se sente?
Por que chamar abraço a uma troca de energias, a uma partilha de calor? Por que chamar Matemática à ciência que me diz que o homem mais o cão são dois? Efectivações ou etiquetas humanas nada somam ao meu olhar ao vê-los... ao meu arrepio ao imaginar o vazio que neles ocupava todo o espaço... e à minha negligência por nada ter feito. Amanhã pergunto a ambos se têm fome.

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