segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O xaile

O dia acorda... os desejos com ele partiram... e o relógio com ele se quebrou. Mais uma página do calendário se muda, mais um ano que se aproxima do fim. Os sonhos criados e derrubados já não são sequer chorados... neste momento constituem barreiras ultrapassadas... e sobretudo “conformadas“.
Não acredito em destino... nem sequer em providência... creio, contudo, que tudo acontece por alguma razão... e, por isso, procuro fazer das mais pequenas coisas lições, ensinamentos que fazem parte do processo de crescimento.
Tal como as pessoas que aparecem e desaparecem das nossas vidas... elas sempre existiram em nós, ou então, aparecem em momentos concretos de forma a mostrar-nos algo, que podia ser de uma maneira, mas que acaba por ser de outra... por vezes sem razão aparente, outras porque não poderia ser diferente. É fantástico como, no meu caso, as pessoas aparecem com as suas diferentes histórias exactamente no momento em que procuro respostas concretas... ou quando estou prestes a tomar uma decisão... na minha própria história. Não acredito em coincidências, mas sim em atracções... pelas semelhanças, pelas diferenças.
  Hoje, à semelhança de ontem, não conseguirei finalizar todas as leituras que tenho por acabar; serei incapaz de pintar aquela tela... apenas quero esconder as mãos sobre o xaile cinzento... e ficar assim... a observar o Mundo, a ver como este se altera a cada segundo... como espectadora... narradora (hoje não participante). Enrolada na posição fetal, coberta apenas pelo tal xaile cinzento – que tem a importância de uma fortuna, para mim – fico assim... abstrata, alheia ao que normalmente me transtorna, ao que habitualmente me encanta ou apaixona.
Não sinto frio nem calor. Sou incapaz de rir ou chorar. Não sinto dor. Recolho-me no xaile como se de um escudo se tratasse... não é grande o suficiente para cobrir todo o meu corpo... mas é forte, quanto baste, para me proteger... para que o seu abraço me transmita aquilo que procuro desenfreadamente... protecção, abrigo, no fundo... tudo aquilo que tenho dado... sem retorno... sem nada pedir em troca... E isto não é uma queixa. Ninguém me obriga a dar o infinito... eu dou... simplesmente.
Hoje quero o xaile cinzento sobre a minha alma nua.

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